quarta-feira, junho 18, 2008

Homem de família

Finalmente Astarô deixou ele ir para casa. Claro, como patrão Astarô não saiu de casa no natal, mas obviamente, tudo foi acertado de antemão entre ele e Bartolomeu para que este fizesse o trabalho do chefe naquele dia. Ainda que o patrão nem tivesse saído de casa, Bartolomeu viu-se preso e submetido a ele graças às suas constantes ligações para o escritório. Só depois que Lili confirmou com Astarô que Bartolomeu já tinha acertado todas as pendências é que ele o liberou.

5 horas da tarde. Em um dia normal ele seria liberado às 6, mas era uma ocasião especial. 25 de Dezembro. Agora Bartolomeu tinha apenas que comprar o coelho, deixar Lili em casa e então comemorar com sua família. Sim, normalmente o natal é comemorado no dia 24, mas não, na casa de Bartolomeu prevaleciam as manias da Vaca. Enquanto ia guiando o carro para a casa da velha que ia lhe vender o coelho ia admirando Lili e pensava como a Vaca no passado era semelhante a ela, ao menos em alguns aspectos.

Sem dúvida a Vaca sempre foi recatada, e Lili nunca demonstrou qualquer pudor. Talvez exatamente por isso tenha se casado com a Vaca. Ele sabia que coisas ruins trazem coisas boas, e coisas boas trazem coisas ruins. Na sua primeira transa com a Vaca conheceu finalmente o que era uma mulher frígida. Imediatamente pensou que aquela seria a mãe de seus filhos, afinal, uma transa ruim significa bons filhos. Quanto a Lili, ele às vezes desconfiava se ela não era uma ex-prostituta ou atriz pornô, tamanha sua excitação e gozo. Tinha certeza absoluta e total que um filho com Lili seria uma desgraça completa, não só pelas conseqüências que ele traria, mas como ser humano mesmo.

Ambas eram capazes de simular carinho, sorrir e mentir, daí sua semelhança. Bartolomeu não se enganava, ele sabia muito bem que se a Vaca gostava de alguém era apenas dos seus filhos. O amor dela por Bartolomeu era agora algo folclórico, toda a família sabia dele, assim como os amigos do casal, ninguém, porém, havia visto qualquer rastro material de sua existência. Já com Lili as coisas eram mais simples. Bartolomeu era uma espécie de caça-níquel, com uma alavanca que levantava de tempos em tempos. Lili abaixava a alavanca de Bartolomeu e, dando sorte, ela ganhava alguma coisa que queria.

Chegando à casa da velha quis fazer tudo o mais rápido possível. Escolheu um coelho albino e pagou a velha em dinheiro. Não quis o troco, a velha confundiu a pressa de Bartolomeu por bondade natalina e ele acabou fingindo ser esse o motivo da caridade. Provavelmente aquela velha demoraria uns quinze minutos para pegar seus dezoito reais de troco. Menos de um real por minuto. Pro inferno com a velha.

“Que coelhinho bonitinho ! O pêlo dele é tão fofinho, todo branquinho ! Dá uma vontade de abraçar até esmagar.” Bartolomeu achou engraçada essa frase de Lili. Combinava com ela. Toda no diminutivo. Só não entendia essa parte final, essa lógica doentia que levava Lili a achar que quando se amava algo muito, acabaríamos destruindo-o. “Tá, é isso tudo sim, mas não fica apertando ele muito. Se a Vaca sentir seu cheiro nesse bicho ela vai me encher o saco. Hoje é natal, só quero encher é minha barriga.” “Já te disse que você às vezes é muito babaca ? E eu ? Já pensou como eu vou passar o natal ?” “Sim, com sua mãe e seu pai, assim como meus filhos. Que você ia achar se seu pai te desse um carro com cheiro de amante ?” Lili colocou o coelho no banco de trás e se contentou em acariciá-lo apenas. Dentro de meia hora eles estariam cada um em sua casa. O coelho ficou dentro de uma caixa com furos.

3 comentários:

Isa disse...

Sr.Luiz,
tô passando aqui para te convidar a visitar o meu blogue.Só para sacar que "estamos todos interligados".

Valeu.
Bjo

Gomide disse...

lyca!

"certeza absoluta e total"

vc plagiou o meu post "O peixe e o senhor" né?!?!

pode falar....

Tamires disse...
Este comentário foi removido pelo autor.