Pois bem, vamos à vida de José Damião Bueno Lycarião.
Tio Damião, primogênito do casal formado por Dona Wanda e Seu Lyca, não raro é visto como um dos maiores vencedores da família. Para mim, um tio muito querido, uma agradável companhia e bom de conversa, mas confesso já ter sido ele um dos tios que eu mais detestava.
Nesse ponto de ele ser detestado, ele se iguala à Dinda. Ambos não tinham a mínima paciência com meus indubitavelmente irritadores barulhos quando criança. Não que eu fosse uma criança capeta, era apenas normal. Mas claro, como uma criança normal, meu repertório de efeitos sonoros quando brincava era algo aterrador. Compreendo as broncas que ambos me deram, exatamente por eu ter me tornado uma pessoa que odeia barulhos, principalmente infantis.
Agora, veremos como ele se tornou um exemplo de vencedor. Ao contrário de meu avô Jair, ele conseguiu se tornar um vencedor através do estudo. Sempre um aluno muito aplicado, cursou uma faculdade federal, (como ele estudou em BH, presumo ser a UFMG) onde fez bacharelado em química. Pelo destaque que foi em seu curso, conseguiu uma bolsa de estudos nos EUA. Já sabia falar inglês, fora autodidata nisso. Então, concluindo sua faculdade, aos EUA se dirigiu.
Lá, conheceu aquela que seria sua esposa, a minha querida Tia Beatriz, que se não me engano tem raízes em Belo Horizonte. Uma das mais célebres histórias desse casal, se passa nos próprios EUA. Reza a lenda que ambos, já enamorados, alugaram um carro conjuntamente e com ele cruzaram o país de costa a costa. Infelizmente não sei maiores detalhes de tal viagem, mas só esse esqueleto da história já nos mostra novamente como minha família realmente tem uma veia cinematográfica.
Pois bem, nada mais sei historicamente sobre os pombinhos, tendo agora que recorrer apenas às minhas lembranças. Portanto, teremos agora que dar uma avançada boa na história.
Agora o casal já tem três rebentos. Andréia, Luiz Flávio e Letícia. O casamento se mantêm e toda a família mora em AlphaVille, perto de São Paulo. José Damião é engenheiro químico, trabalhando na DuPont (ou ao menos tendo trabalhado), e dentro os afazeres de Tia Beatriz posso mencionar as aulas que ela ministrava em sua própria casa. Aulas essas de inglês, para turmas que desconfio, poderiam chegar a duas dezenas de alunos. Tais memórias poderiam se encaixar acho que bem no ano de 1993, que foi quando fui pela primeira vez à São Paulo, e por lá passei.
Atentem terem sido os filhos desse casal aqueles que se tornariam meus primos mais velhos. Afinal, tenho primos apenas pelo lado da família Lycarião.
Andréia, a Dedéia, sempre foi uma mulher independente e muito bonita, embora tivesse morado com os pais acho que quase que até os 30 anos. Casou-se recentemente, e minhas últimas notícias sobre ela mencionavam uma gravidez. Sempre me tratou muito bem, e sempre gostei muito dela. Apenas uma história que me vêm à cabeça que denota uma pequena rispidez dela para comigo. Acho que essa rispidez foi involuntária, sendo ela percebida apenas de minha parte. Tal memória se refere à uma visita que ele fez à Vó Wanda pouco depois que Dedéia voltava dos EUA, e eu, como criança estúpida, completamente imbuída de gírias televisas vazias e repugnantes, perguntei à Dedéia:
"E aí, como foi nos States ?"
Sua resposta veio rápida.
"Você sabia que States é estado, e portanto não significa necessariamente Estados Unidos ?"
Particularmente, se ela realmente foi ou não ríspida, acho que nunca saberei. O fato é que eu me senti um idiota. Se eu fosse ela, realmente teria sido ríspido. Gírias, que são o desespero da linguagem, já são ridículas. Quando Televisas, infantis, e movidas por um desejo da pessoa de parecer "descolada" e "plugada" são simplesmente odiosas. Muito obrigado Dedéia, por ainda que acidentalmente, ter-me dado tal lição.
Luiz Flávio. Um dos meus mais queridos e invejados primos. Ainda que há pouco tempo eu tenha errado seu nome (não sei como diabos fui esquecê-lo, mas já tive histórias incríveis de tais esquecimentos), é um dos meus primos que mais frequentemente está em minha memória. Não necessariamente pela convivência que tivemos juntos, um tanto limitada, mas sempre gratificante, mas sim pela própria vida que ele leva. Quando penso no Luiz Flávio, mais conhecido como Lú, penso em um homem que sabe como desfrutar a vida. Nunca fez nenhuma grande irresponsabilidade, mas já fez inúmeras farras. Sempre trabalhou, e ainda mora com os pais (acho que agora está com uns 33 anos). Suas histórias de sucesso com o mulherio, assim como de paixão por máquinas automotivas em geral são sempre memoráveis e um exemplo daquele que seria realmente o garotão bem sucedido. Acho que indubitavelmente, é o Don Juan da família. E um crianção !
Uma de suas histórias mais deleitosas se é a história de um mês de sua vida que foi o mês em que ele mais foi punido por forças divinas. Nesse mês ele quase morreu, quase ficou paralítico, quase ficou cego, e muito provavelmente, por pouco não deve ter sido deserdado.
Primeiramente, sua quase cegueira. Lú jogava Squash (isso é esporte, e de esporte não quero saber, então, provavelmente está escrito errado), e, um dia, vendo um cara jogar Squash com um óculos de operário, desses que protegem toda a área dos olhos pensou: "porra, que cara paranóico ! Nunca a bola vai pegar no olho dele."
Surpresa ! Uma semana depois a bola realmente não tinha pegado no olho do jogador precavido, mas sim no do Lú. Infelizmente não me lembro quão graves foram as consequências, mas sei que hoje está tudo bem. E que no momento a dor foi graúda.
Depois de quase ficar cego, acho que depois de uma semana, Lú simplesmente caiu de cama. Não sei como diabos aconteceu, mas se bem me lembro, disseram ser uma virose (nas sábias palavras de meu amigo Juninho: "Quando um médico não sabe o que você tem, você terá uma virose."), pois bem. Essa virose quase matou nosso querido Luiz Flávio. Infelizmente, novamente não sei quão grave foi o acontecimento, mas me lembro de ter conhecimento da enfermidade lá em Varginha. Ou seja, foi algo realmente preocupante.
Enquanto o Lú ainda estava acamado, nosso querido Tio Damião teve um pequeno acidente. Ele simplesmente quase ficou paralítico quando pilotava um avião experimental e o mesmo caiu. Claro, nada demais, acontece sempre, em todas as famílias. Só para constar não ser ele um incompetente, no quesito piloto e em conhecimento de aeronaves, ele já foi presidente da Associação Brasileira de Aviação Experimental, a ABRAEX. Claro, foi uma comoção e uma preocupação imensa em toda família. Lú em sua cama quase morrendo por uma desconhecida e mistoriosa virose, e, na sala da casa da família, o patriarca da mesma, em uma cama de hospital que lá teve que ficar, pois foi impossível transportá-la até o quarto.
Bom, o fato é que Lú se recuperou de sua virose e a família pode respirar aliviada, apenas um membro da mesma estava em maus lençóis. Uma das coisas que Lú sempre fazia e claro, fez quando se restabeleceu, seriam passeios em motocicletas. Lú sempre foi um filho muito ligado ao pai, e, ao deixar o pai acamado sozinho, ainda mais na sala, ele realmente não se sentia muito bem. Uma das coisas que aconteceu num dos seus primeiros passeios de moto assim que se restabeleceu foi justamente levar um belo tombo, que quase o deixa paralítico. Claro, no dia seguinte, ele estava ao lado do pai, na sala da casa, em sua própria cama de hospital. Isso que é amor e dedicação. Sinceramente, acho que a Tia Beatriz realmente deve ter pensado em deserdar o Lú por causa dos ciúmes que deve ter sentido.
Mais saborosa ainda é a história quando a vemos na figura do médico da família. Chegando para examinar Tio Damião, ele pergunta o paradeiro da família, e o estado do recém recuperado Luiz Flávio. "Ah, o Lú saiu para passear de moto, está muito bem já." Terminados os exames, o doutor estava se dirigindo à porta quando toca seu celular. "Alô, doutor, por favor, não fale nada aí, com ninguém, finja como se nada estivesse acontecendo. Aqui é um amigo do Lú e ele acabou de levar um tombo feio de moto. Parece que a coluna dele tá bem destruída, tamos em tal lugar."
Claro, como bom profissional, ele desliga calmamente seu celular. Pergunta e afirma Tia Beatriz: "Outro cliente já ? Médico realmente não têm sossego !" Ao que o doutor responde: "É, nada demais, acontece."
Mais tarde o mesmo médico acompanha Luiz Flávio em sua nova cama de hospital, à adentrar a casa triunfante para acompanhar o pai.
Tia Beatriz perdia seu sossego.
Agora, falaremos sobre a caçula dessa família, uma das minhas primas mais queridas, embora ultimamente tenhamos nos distanciado extraordinariamente. Ana Letícia, a querida Lê. Sempre foi uma garota extremamente independente, corajosa e de um brio no mínimo, raro. Também, sempre foi uma das minhas primas mais desenvoltas e divertidas. É penoso para mim constatar que eu não tive tanto contato assim com ela, era mais um espectador de suas conversas, normalmente travadas com outros primos, em especial Gui e Leo, filhos de Seu Bida.
Afinal, eu era um fedelho, sou da terceira e última geração dos primos da família, mas nunca tive muitos problemas com isso. Ainda assim a Lê sempre foi muito gente boa comigo, e lembro-me especialmente das tardes que passávamos todos nós juntos na casa da Vó Wanda. Tardes inteiras passavam em minutos. Essas tardes foram as tardes que mais me fizeram apreciar minha família e a camaradagem familiar, mesmo eu ficando meio "por fora" das conversas.
Eles para mim eram os jovens, aquelas criaturas míticas, ultra-confiantes e de uma capacidade tal de se divertirem e serem divertidos que fariam qualquer parecer deprimido. Talvez possa ser pela falta de contato, mas a Lê ainda me parece ser esse tipo de pessoa, que sempre está se divertindo e aproveitando seus momentos, mesmo que não intensamente, mas constantemente.
Uma das coisas que ele repetia como um mantra nas últimas vezes que nos encontramos era o seu grande desejo de jamais se casar. Confesso que tal futuro não me agradaria nem por um instante, mas para ela, realmente parece ser perfeito. Ela é do tipo de pessoa que consegue aproveitar a vida sozinha, quem sabe até aproveite-a mais assim. Isso realmente fica claro quando me lembro dela em épocas de namoro. Ela me parecia mais "apagada", um tanto menos cativante e empolgada.
As últimas notícias que dela tenho são que ela está cursando jornalismo, e se não me engano, já havia estagiado na Globo e no SBT. Pensando bem, já deve estar se formando, isso se já não se formou. Não gosto de concluir que realmente já faz muito tempo que não a vejo. Não ficaria surpreso se concluísse ser ela o integrante da família Lycarião que há mais tempo não vejo. Confesso ser isso uma pena. Afinal, ela era a "Princesa" do meu primo Leo. Só agora me lembrei, sua alegria constante realmente lhe faz jus. Não me lembro em qual língua, letícia significa alegria.
E aqui acaba esse post. Espero que tenham gostado dessa que é a família que brotou do primogênito dos meus avós Lycarião.
Nos vemos amanhã, quando veremos a família de Obededom Antônio.
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