Passemos então ao ramo mais conturbado, hilário e populoso da família.
Conosco, os intrépidos Lycariões !
A origem mais remota que eu tenho, com certeza desse nome, é do meu avô, Lecticio Luiz Lycarião.
Lecticio Luiz Lycarião. "O homem dos três L", como era conhecido nos jornais varginhenses. Neles ele era figurinha fácil. Mas, vamos ser mais cronológicos.
Meu avô nasceu na Paraíba, e quase nada sei de sua infância. Pelo o que me consta, parece que saiu de casa aos 13 anos de idade. Sei que pouco depois disso entrou em uma escola de aviação, dirigida por um francês. Aqui começa a sua saga como aviador e aventureiro.
Em tal escola Lecticio aprendeu a pilotar aviões, e, pelo o que sei, foi onde matou alguém pela primeira vez. O caso é que os aviões, não sei como, para funcionarem deviam queimar um pouco de éter, o que fazia com que o piloto estivesse nas nuvens sem nem mesmo precisar decolar. Claro que essa decolagem precoce era um grande risco para os pilotos, e também para os instrutores. Meu avô, cansado dessa situação, foi reclamar com o francês que dirigia a escola. Não sei como ele conseguiu isso, mas no decorrer da conversa, o francês acabou sacando sua arma de fogo. Só o meu avô saiu da sala com os próprios pés.
Logo após esse incidente, não sei o que ocorreu, mas sei que a próxima parte de sua vida da qual tenho conhecimento deu-se na revolução de 30. Meu avô, que viveu a maior parte da vida em Minas Gerais, lutou por São Paulo. Ou seja, ele estava guerreando contra o Estado no qual acabaria por se assentar. Tudo bem, até aí nada demais. Aqui, utilizando-se dos conhecimentos obtidos na escola de aviação que pertencia ao francês, tornou-se piloto e executou várias missões de bombardeio.
Muito tempo depois, já quando era velho, conversou com um irmão seu sobre esse conflito. Trocando informações, sobre suas participações nas batalhas, os dois viram logo que lutaram em lados opostos. E, em armas opostas. Meu avô como piloto, seu irmão como soldado de infantaria.
Em dado momento, o irmão de meu avô comentou sobre um ataque que ele tinha sofrido por aviões. Previsível não ? Um dos pilotos desses aviões era exatamente meu avô. Portanto, que mal havia em ele lutar contra o Estado no qual viveria ? Por pouco ele não matou o próprio irmão.
Neste mesmo conflito esse meu aventureiro avô ficou muito amigo de um Paraguaio. E, assim que as coisas acalmaram, estourou no Paraguai a Guerra do Chaco. Claro, meu avô foi para lá. Como voluntário. Aqui, não sei como foram as coisas e nem quem ele tentou matar, apenas sei que ele conheceu um americano. E, ficando amigo do mesmo, com a pacificação ele foi para os EUA. Acho que para Boston, mas não garanto. Nada sei do que ele fez lá, apenas sei de quando ele volta para o Brasil, mais especificamente, Ouro Fino.
Aqui, se bem me lembro, ele já está casado com Wanda Bueno. E, se não me engano até mesmo já contam com um moleque na casa, José Damião. Maiores detalhes seguirão.
Pouco sei do que ele lá aprontou, mas sei que novamente, de lá ele saiu fugido. Isso exatamente por já ser essa época a mesma da Segunda Guerra, e, o ramo Lycarião sempre teve uma queda por regimes autoritários. Essa é fácil né ? Sim, o Seu Lyca era simpatizante de Hitler. Lembro-me de que o motivo principal de sua saída de lá foi causado por tais gostos. Certo dia, durante a noite, pixaram uma suástica no muro da casa onde ele morava com minha vó. Tendo os dois um filho, a preocupação foi grande, e, outros ares foram respirar.
E assim o fundador do ramo varginhense do clã Lycarião chega àquela que será minha cidade natal. Aqui eles se estabelecem e toda a família aflora. Seu Lyca e Dona Wanda terão uma boa ninhada, em ordem cronológica terão José Damião, Obededon Antônio,Eurico Rogério, Lecticio Luiz (meu pai) e Wanda Miriam. Isso nos mostra quantos posts serão investidos nessa família, mas, adiante com a história varginhense do homem dos três L.
Aqui Lecticio foi realmente um cidadão exemplar. Muitos duvidam de mim quando digo isso, mas o aeroporto de Varginha foi iniciativa dele. Quem duvidar, vá até lá e olhem o nome do primeiro hangar construído, o do próprio aeroporto, para seu aeroclube. Sim ! Lecticio Luiz Lycarião. Vamos deixar isso já bem claro. Meu avô foi um fanático e um entusiasta por aviões. Praticamente todos os varões da família acabaram tendo essa mesma paixão. Eu sou um confesso, embora tenha que admitir que tal paixão já teve em mim um amante mais fervoroso.
Queridos leitores, infelizmente interromperemos por aqui a saga desse incrível personagem. Não se preocupem, faço questão de contá-lo por inteiro, e exatamente por isso a interrompo. Devo estar no máximo na metade da vida desse grande homem. Portanto, fica a mensagem. Amanhã, veremos ainda mais dessa vida incrível que foi a do homem dos três L.
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