quinta-feira, setembro 23, 2004

Onze, e estamos em Setembro !

Vamos falar daquele que sem dúvida alguma foi um dos meus primos que mais me marcou, exatamente por ser um dos meus grandes companheiros de infância. Refiro-me ao caçula de Seu Bida, Eduardo, meu querido Dudu.

Dudu é o mais velho dos primos mais novos. O maioral da terceira geração. Essa terceira geração era a mais ínfima, sendo composta por Dudu, eu e Rodolfo. Antes de mais nada, devo dizer que nós 3 éramos os que sempre estavam junto uns dos outros, mas também é necessário dizer que essa deve ter sido a geração com a maior quantidade de conflitos.

Nesses conflitos, Dudu geralmente era espectador ou pivô. A maioria deles aconteceu entre mim e Rodolfo, mas essas histórias são longas, e em outro post serão devidamente explicadas. O essencial é mostrar aqui que não raro, eu e Rodolfo brigávamos por estarmos realmente disputando para ver quem era mais amigo de Dudu.

Tal disputa é facilmente explicável. Dudu era o único de nossa geração que vivia em cidade grande, sendo natural e residente de Belo Horizonte. Também, por ser o mais velho de nossa turma, era aquele com maior conhecimento e experiência de vida. Ficávamos maravilhados pelas histórias que ele contava sobre sua fantástica vida, as brigas, os pivetes, os perigos enfrentados na cidade grande.

Mas sem dúvida alguma, aquilo que mais o tornava admirável era seu admirável e pujante vocábulo. Senhores, esse meu primo que me ensinou a palavra "caralho". Todos sabemos como crianças apreciam palavrões e xingamentos, e esse meu primo, como o maioral de nossa geração, era o único que poderia passar por algum grau de iniciação no sacro mundo das palavras chulas pelos primos da segunda geração.

A situação fica ainda mais grave quando vemos que eu e Rodolfo tínhamos irmãs apenas, pertencentes sim à segunda geração, mas já que eram meninas, deveriam sempre apresentar um dicionário imaculado, livre de quaisquer palavras de baixo calão. Afinal, essas, eram de propriedade exclusiva dos homens. Exatamente por esse privilégio masculino, Dudu fora abençoado e tivera sua iniciação nas arcanas artes do xingamento de maneira muito mais fácil, corriqueira e rápida. Afinal, se vocês se lembram, ele não tinha apenas um, mas dois irmãos !

Lembro-me ainda hoje, com clareza de um dia que eu fiquei simplesmente maravilhado pela exuberante concatenação de palavras que esse meu destro primo foi capaz de elaborar. Estávamos nós três brincando de Pega-pega, mas um pega-pega diferente, já que ele só podia se passar em um pequeno morro, de difícil escalada para nós, e o "pegador" não podia nele subir, limitando-se apenas a tentar pegar aquele de nós que por ventura escorregasse e voltasse ao início do morro. Logo mais irei divagar mais sobre esse morro.

Rodolfo estava como o "pegador" naquele momento. Eu estava seguro, mas Dudu havia se descuidado e por pouco não foi pego por Rodolfo. Ainda assim, espertamente ele protestou:
"Dudu, te peguei !"
E então, veio a maravilhosa e poética resposta de Dudu:
"Pegou o caralho !"

Aquilo que havia começado como uma pequena brincadeira, com o mero propósito de estreitar laços de amizade, aumentar rivalidades e passar o tempo, acabara de se tornar uma experiência epifânica. Mesmo não tendo entendido bulhufas, gargalhei perante a sonoridade marota e brincalhona dessa excelente reposta à falácia de Rodolfo. Claro que depois a brincadeia acabou. Todos nós queríamos saber qual era o significado daquela palavra, cujo pronunciamento nos trazia os mesmo efeitos que algumas horas de consulta com um bom terapeuta.

Durante toda minha infância, um dos meus maiores sonhos era conhecer a casa de Dudu. A família de Seu Bida era aquela que havia herdado a paixão pelo aeromodelismo na família, fazendo com que as jóias da família presentes em Varginha acabassem por ter adições em Belo Horizonte. Mas a magnificência da casa não parava por aí.

O que eu mais anseiava por ver quando novo, era a coleção de Comandos em Ação que as lendas ditavam existir na casa de Dudu. Nas férias tínhamos uma pequena demonstração do gigantismo e qualidade de tal coleção. Dudu trazia os mais variados Comandos em Ação, tanto Cobras como G.I. Joe´s, e eu e Rodolfo nada podíamos fazer a não ser admirar embasbacados a gloriosa vida que esse nosso abençoado primo tinha.

Lembro-me particularmente do carinho e preferência de Dudu pelo Sargento Braço-Forte. Bonequinho extremamente forte, usando uma camisa regata azul, calça camuflada verde, coturnos pretos, bigodes e, para completar, um chapéu verde, daqueles típicos de policiais florestais (ao menos de filmes americanos), e um óculos Rayban azul. Era a expressão perfeita do machão dos anos 70.

O boneco como um todo exalava uma palavra: Estilo. Olhando para aquele boneco, você tinha certeza de algumas coisas. Primeiramente, ele era um homem durão, como nenhum outro em todo o mundo. O único ser humano que talvez pudesse ser comparado a esse temível Sargento seria Clint Eastwood, mas ainda assim o Sargento o faria chorar como uma mulherzinha. Em segundo lugar, você entendia finalmente o que detinha os Cobras de ganhar a guerra do imaginário infantil. Se os G.I. Joe´s eram treinados por aquele Hércules de plástico, quem havia de ter a mínima chance contra o inominável poder que haveria de ser conquistado por tais recrutas ? Sem dúvida alguma, Sargento Braço-Forte era o tipo de homem que já havia feito muitas mães chorarem. E ele não dava a mínima para isso, sua frieza era tal, que parecia ter o coração de plástico.

Essa preferência, como já ficou claro acima, era facilmente justifcada. Porém, eu nunca havia visto quaisquer veículos dos Comandos que Dudu possuía, e era esse o meu sonho infantil. Era-me absurdamente deleitoso apenas imaginar os veículos que Dudu descrevia, especialmente os aviões. Que eu me lembro ainda hoje, ele tinha um F-14 e um caça de asas invertidas, ambos dos G.I. Joe´s. Posso dizer que não foram poucas as noites nas quais dormi pensando nesses caças.

Basicamente, toda a minha infância e meu relacionamento com o Dudu se resumiu a isso. Admiração por ele, suas histórias e sabedoria de vida, assim como à sua impetuosidade. Dudu não engolia sapos. Qualquer batráquio que se aproximasse seria imediatamente repelido com um violento xingamento ou pontapé. Não foram poucos os atritos que tive com ele por causa disso, mas sempre eu acabava cedendo, engolindo ou não um sapo.

Nossa proximidade começou sua derrocada quando eu estava com os meus 13 anos. Nesse idade tive alguns dos mais marcantes acontecimentos de minha vida, e posso falar seguramente que foi nessa idade que ingressei na juventude. Um dos acontecimentos que mais evidenciou nosso distanciamento, ocorreu simplesmente por causa de uma música. Eu queria escutar algumas músicas do Metallica, ainda hoje minha banda favorita, e Dudu se recusou a escutá-las comigo. Mesmo ele só estando presente nas férias e eu tendo aquelas músicas para sempre, eu decidi por escutá-las e ignorá-lo.

Assim que me mudei para BH, tinha expectativas de me aproximar novamente dele, o que até mesmo aconteceu por um curto período, mas realmente já tínhamos nos diferenciado intensamente. Mesmo ainda gostando-nos e admirando-nos mutuamente, já não mais éramos os grandes companheiros que um dia havíamos sido. Essa nossa distância pouco diminuiu, mas ela também pouco importa. Só de ter essas recordações, mantenho Dudu como um campanheiro eterno, um sábio tutor que me ensinou muitas coisas sobre como ser uma criança. Realmente um dos primos mais marcantes de toda minha vida.

Sobre o morro onde brincávamos, devo dizer que se alguém o ver hoje, ficará espantado de como algum poderia algum dia chamar aquilo de morro. Eu mesmo me espantei ao vê-lo há pouco tempo atrás. Esse morro é apenas um pequeno declive, que está em uma pequena praça, perto da Lan House que costumo ir em Varginha, a HotGame. Também, é exatamente em frente à casa de Vó Wanda. O que mais me impressionou foi ter visto esse morro e constatar que eu poderia facilmente subi-lo com não mais que três passos. E, que jamais poderia me deitar nele. Exatamente por ser o espaço demasiado curto.

Fiquei maravilhado ao perceber isso. Só então pude perceber que realmente, o mundo para as crianças é muito maior, muito mais vasto, e o é exatamente por serem as crianças pequenas. Se na minha infância eu nunca tivesse brincado naquele declive, eu jamais o teria percebido em toda a minha vida. É ridículo perceber que um dos coadjuvantes de uma das minhas mais queridas memórias não é absolutamente nada para praticamente todos. Valorizar as coisas mínimas é o maior talento que uma criança tem. É esse talento que faz delas pessoas tão plenas. Mesmo aos nossos olhos não tendo nada, cada criança tem para si todo um mundo.

Amigos, por hoje ficamos aqui. No próximo post, conheceremos a vida de Eurico Rogério, um querido tio meu que, ainda que sejamos um tanto distantes e discordemos em variados assuntos, é uma das companhias mais agradáveis que sou capaz de elencar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Luiz,
Como não tenho cadastro, estou postando como anônima mesmo. Olha, o prazer foi meu de te conhecer, gostei muito de falar com você. Foi a primeira vez que falei com um "blogueiro" e depois de ontem talvez eu faça isso mais vezes.... foi bem legal! Gostei bastante do seu post de hoje também e nem imaginava que você falaria da nossa conversa de ontem. Fiquei surpresa e feliz. É isso!
Beijo da Lidia
PS: O que você achou dessa história do Orkut fora do ar? Como viciada que sou, estou odiando! ehehehe

Anônimo disse...

Meu deus...

sou uma pessoa mais triste depois de ler essa merda toda

sem querer ser prego, mas vc é realmente muito mais patético do q EU imaginava, e olha q sou eu hein

não consegui ler tudo, só li os três primeiros inteiros, e o seu cotidiano nos outros, a parte sobre a sua familia, embora extremamente ingênua (quase infantil posso dizer) ficou até, como posso dizer... bonitinha, mas o seu cotidiano é realmente deplorável

chega a dar vontade de contratar alguem para te dar uma surra e tornar sua vida um pouco mais iteressante

desculpa a sinceridade aí, se bem q c vc esperava falsidade da minha parte já teria parado de andar comigo a muito tempo, ja q n foi a primeira vez q falei coisas do tipo c vc

a propósito, duas surpresas: quer dizer q vc quer ser lembrado após a morte!
e q deseja o fim do mundo pq ele está podre!

já ia esquecendo, vc é uma bicha louca fascinada por horóscopo, essa foi c certeza a parte, mais nogenta de todas!

faz um favor p o mundo e morre

assJr