quinta-feira, setembro 16, 2004

Nono, mas não uma Nona.

Obededom Antônio Bueno Lycarião. Para os sobrinhos, Tio Bidon. Para os íntimos, Seu Bida.
Acho que sem dúvida alguma aquele que mais carrega o legado cultural de Seu Lyca. Sem dúvida é o mais intelectual de meus tios. Também acho que é aquele com quem mais tive contato, assim como seus filhos foram os primos com quem mais estive próximo. Isso desconsiderando-se primos que não fossem de grau "imediato".

Seu Bida sempre foi estudioso, lembro-me de papai me contar histórias de quando ele ficava espezinhando-o quando era pequeno. Papai como o diabo que era ficaria enchendo o saco enquanto o pequeno Bida aplicava-se árduamente aos estudos. Não raro a história terminava em cascudos.

Pelo o que sei, Seu Bida formou-se na PUC, em alguma engenharia. E, formou-se exatamente no campus onde atualmente estou eu, Coração Eucarístico, Belo Horizonte. Se não me engano foi exatamente por essa época que conheceu Daça, a Tia Daça, mulher de fibra, que não raro tem opiniões um tanto polêmicas para a família. Lembro-me que ela formou-se na FAFICH, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. Por algum acaso, a primeira casa em que morei aqui em BH era exatamente em frente ao local onde ela havia estudado.

O primeiro filho do casal foi Guilherme, nome quase nunca usado pela família. A alcunha deste louvável Lycarião é Gui. Atualmente, depois de batalhas incessantes e épicas, está cursando Medicina. Acho que já está quase se formando. Tenho algumas memórias no mínimo interessantes dele.

Em Varginha, existe o Clube Campestre, um clube que vocês verão que foi o lugar de alguns dos acontecimentos mais marcantes de minha vida inteira. Numa época de férias, com todos os primos em Varginha, fomos todos para o Campestre certo dia. Eu devia estar com uns 10 anos, então, Gui, um dos patriarcas dos primos, devia estar com algo como 16, 17. Exatamente nessa época, eles eram para mim os jovens que sabiam aproveitar a vida ao máximo, incessantemente e sabiamente saboreando cada minúsculo momento de suas vidas. Claro, tal imagem também derivaria das merdas que por vezes eles aprontavam.

Bom, nesse dia, Gui era o mais velho dos primos presentes, e, portanto, era o mais destemido, o maioral, o líder do clan dos pequenos Lycariões. Por favor, entendam que eu estou dando uma escala épica para coisas mínimas, não achem que éramos índios em uma floresta. Éramos apenas moleques em piscinas. Mas, nosso destemido líder naquele dia estava firmemente centrado em um nobre objetivo para um jovem guerreiro. Ele e seus companheiros de batalha iriam fazer com que no fim do dia eu acabasse por ver a maior quantidade de garrafas vazias de cervejas que eu veria em toda a minha vida.

As mesas do campestre na verdade eram um poste, que tinham um círculo de metal a aproximadamente um metro de altura, que formava a mesa em si, e, no seu topo tinham uma cobertura, como uma espécie de um guarda-sol. Lembro-me de ficar impressionado quando alguns beberrões conseguiam fazer com que as garrafas fechassem um círculo de duas garrafas de raio ao redor do "poste-sustentáculo" da mesa.

Pois bem. Vocês já sabem que os Lycariões têm uma queda por guerras e batalhas. E, nosso comandante-em-chefe naquele dia estava realmente inspirado ! Sem nem mesmo usar-se de artifícios táticos como remédios ou óleos ou até mesmo um belo banquete antes da batalha, nosso glorioso general atacou as valkírias inimigas em suas armaduras cor de bronze, usando apenas da sua vontade de aniquilá-las e sua infinita moral de jovem.

Contando com seus aliados apenas ocasionalmente, esse nosso glorioso combatente deixava uma a uma as armaduras inimigas vazias, sugando toda a vida que nelas havia, como um vampiro que freneticamente esvazia os corpos de suas vítimas, deliciando-se imensa e inconseqüentemente com o inebriante coquetel que elas guardam dentro de si.

No fim do dia, a paisagem era aterradora, incrível de se ver, mostrando muito bem até onde um jovem consegue ir quando confia em si mesmo. Lembro-me de ficar impressionado com círculos de garrafas nas mesas quando estes tinham um "raio" de duas garrafas. Pois bem. Novamente os Lycariões alcançaram os píncaros da glória. Nosso temível Gui havia feito nada mais do que um círculo com 4 garrafas de raio. Em outras palavras, as garrafas começavam a surgir a 5 centímetros da borda da mesa. Porém, não foi só isso. O massacre foi tão incrível e desumano, que abaixo da mesa, no próprio chão do clube, percebia-se um outro círculo, ainda maior, com 5 garrafas de raio.

Jamais em toda a minha vida verei outro monumento à picardia, libertinagem e poderio dos jovens, de tamanho destaque e onipotência. Aquela mesa havia acabado de se tornar um Totem, um legado para as gerações futuras, demonstrando o quanto um jovem podia mudar o mundo caso quisesse.

Claro, a deglutição de loiras em tão nababesca quantidade teria o seu preço em nosso amado líder, e o mesmo se encontrava extremamente combalido ao fim da batalha. Não apresentava quaisquer ferimentos externos, embora depois viesse a ter um ou outro hematoma em virdude da magnífica atuação na batalha. Porém, suas entranhas estavam ainda naquele momento sofrendo com a batalha. Seu organismo estava tendo seu apocalipse particular, um ragnarok orgânico.

O estado de nosso comandante mostrava esse fim dos tempos intracelular. Aquele que no início do conflito mostrava uma peculiar galhardia nos seus modos falantes e em seu cantarolar alegre e inspirado, mal conseguia dar quaisquer ordens aos seus homens. A nossa moral, mesmo tendo ganho a dantesca guerra que se alastrou por toda a tarde, estava agora em frangalhos. Nosso heróico comandante, embora claramente vivo e consciente, havia sido desgastado de uma tal forma que suas pernas, que há não muito lideravam destemidamente o ataque contra as gélidas valkírias, não conseguiam sequer suportar o peso de seu próprio corpo.

Como ineptos recrutas, que apenas se protegiam à sombra de nosso grande líder, assim que ele desabou nós batemos em retirada. Dominados pelo desespero, e mostrando quão grande era o nosso despreparo, fizemos a pior das ações possíveis naquele momento. Pedimos para ser evacuados da área de combate. O quartel general, a casa de Vó Wanda, nesse momento percebeu o que seus fuzileiros estavam aprontando. Imediatamente foi enviado o superior imediato ao nosso líder. Seu Bida dirigia-se ao campestre.

Amanhã resumiremos essa épica história, com ainda mais prolixidade, outros toques de lendas nórdicas, e descrevendo em ainda maiores detalhes as guerras travadas entre o álcool e os adolescentes. Desculpem-me pelo recurso televisivo, mas é que mesmo me divertindo, estou exaurido. Afinal, esse post começou a ser publicado às 18:34. Agora são 20:44. Entendam-me.

Abraços, caros leitores.

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